sexta-feira, 29 de maio de 2009

Manaíra Fruto de uma cultura de Massa

A ação vaga e pensada das culturas antigas, o ministério de louvores e a emancipação de uma família aristocrata, além do que se havia de indicar como um caminho pronto e permitido a todos que desejavam construir um templo para erguer deuses e santos miraculosos, o ciúme do filho ufano e compassivo, a sujeição de outros carentes de força e vontade de elevação, a consagrada estória e os deuses e deusas das nódoas rarefeitas e aculturadas, fora o que mais se apareceu presente em toda formação de uma comuna. Fruto disso se edificou, nessa pequena cidade, um imperativo escravo e uma consciência servil, que vive sempre em malogros e fracassos.O ato de cultura refinada e elevada, o interesse aos menos pelas raízes locais – trabalhadas em seu próprio grupo, montadas com a perspicácia e juventude aguerrida de um espartano – , que requer do futuro uma esperança e uma resposta positiva pelos seus esforços, foi isso querer ensinar a quem deseja desaprender, para depois corromper e vigorar.Pois falar de uma cidade que não tem história é falar de fatos, ou seja, é se considerar um anônimo, quando tudo que há de cândido e extra busca romper na primavera para afagar em suas flores, antes que passe um selvagem e arranque-as por pura maldade, nele inerente. Um ódio, uma erudição que reprime o outro, que cumpre o seu destino na opressão e na mediação do trágico. Notadamente, essa cidade só poderia ser edificada no trono de um povo vazio e sem sentido. Vejais tudo que há nela: a estrutura interna, o povo, o regime político, o trabalho árduo impresso pelo gosto dos pais, os estudantes sorrateiros, preguiçosos e irrisórios, as juras dos párocos pérfidos e presos às ordens de uma casta sacerdotal, o médico cristão e negligente, os artistas copiados e seguidores, ou seja, os simulacros e dançarinos da escuridão, as mulheres imprecisas e honestas nas astúcias, como o seu gesto medíocre de selecionar homens e mentir para alguém seguir o seu culto de beleza, de valor, de extraordinário; em suma, a bestialidade e a diferença torpe, ignobe e estóica. Desse povo conserva-se em sua formação o hábito da massificação, e o total abandono de suas raízes. Praticados às ocultas e no íntimo impondo medo e sorrindo com a miséria difusa que serve de ânimo e espetáculos aos maniacos e aos doentes assépticos.Na verdade, existem-se mais “cidadãos” ou “escravos”, numa cidade em que a vontade é secundária, e tudo é alimentado pelas forças involuntárias e não facultativas? A resposta não requer explicação, a não ser em um discurso ulterior.O que estar sendo exposto aqui é o papel de cada ofício em cada segmento peculiar, e a sua contribuição pra algo se demonstrar tão oculto e contíguo às coisas que só alguns percebem, ou todos, mas se eximem – seja com medo, seja porque adoram ser louvados e proclamados como um homem mal – , partilhando-os da autofagia humana.Logo, meus irmãos, uma única casta evoluiu e manteve-se no ápice da pirâmide social – com as melhores regalias, com os valores subestimados, com uma religião santa e divina, enfim, foi dessa casta que brotou a raiz mais malévola, mais vingativa e destruidora de nossos sonhos. Tudo quanto era de seu gosto era proibido e cheio de imperativo, principalmente nossas idéias e excelências; o que de direito fora promulgado era o que pertencia apenas a uma elite. Apôs esclarecemo-nos dos enganos e das mentiras que “eles” criaram em nossas almas malquistas e aborrecidas, ver-se que fomos manejo de avaliações e doutrinas ínfimas; mas eles não conseguiram o que tanto almejavam: a nossa dor, o nosso jejum e remissão a seus costumes. Se abster foi uma forma de força e guerra contra às calúnias e disfarce, porque nessa época ser insólito era um paradoxo raro, errar nessa época era estar certo que se colocava os pés no início do purgatório, e seria, por conseguinte, julgado nas palavras do juiz que condena e amaldiçoa com sermões bem montados e lógicos. Ora, dado isso, todo mal praticado, no fundo, é fruto de engano involuntário e circunscrito no movimento da geração passada, e também prejudicada. Acham-se eles filhos de um outro tempo, por conseqüência, são o que é induzido a se perceber em todas guerras, extemporâneos.O que resta destas sepulturas? Apenas cânticos fúnebres e músicas melancólicas. Ah, mas esses cânticos e essas músicas são compostos em forma de reação; então escutá-los é ir de confronto e também amaldiçoar com conhecimento e com memória. No deveremo-nos pelo contrário, criar e cuidar para que essa nova criatura não ganhe um cuidado especial, e não seja mistificada e vista com fundamento para alcançar às coisas elevadas? Ah, mas nunca parece difícil criar e não sentir-se dono de sua obra. Dessa forma, inclino-me a desprezar todos os criadores e as suas criações, porque pra mim honrar esses hábitos dominantes é querer também ser rei e praticar a perseguição a hereges e bruxas do presente, a fim de concentrar meus interesses na causa rapace e premeditada.Precisamente, sem criar coisas sublimes, sem o toque enganador, tornamo-nos grandes crentes e fantasmas noturnos. Como não havia nessa terra, antes abismo e conhecimento desse sonho enganador de progresso, criamos apenas com a anti-NATUREZA. Pois foi renunciando ao instinto dominante e transgredindo nas lutas e nas discórdias que se pode lograr um objetivo, assim determinado. Porventura, antes de se conhecer a natureza criadora, inventara-a no nosso passado; portanto merece-se refletir sobre a sua Gênese, e ao mesmo tempo restaurar o que a muito tempo tornou-se pó.
Gilbert Dillo

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