A UNIDADE DA VIDA HUMANA
A unidade da vida humana se compromete, quando ela se torna invisível, e há uma nítida separação entre os papeis que ela interpreta; quer sejam: o trabalho ficar afastado do lazer, a vida privada afastada da pública, a vida empresarial afastada da pessoal, a infância da velhice etc.
Ela consiste então em atos que não levam a lugar nenhum, que não tem ordem. Portanto aquilo que acredito ser verdadeiro torna-se ficção aos olhos da narrativa, isto é, “a caracterização dos atos supostamente antes da imposição de qualquer forma narrativa sobre eles acabará sempre sendo a apresentação do que são claramente as partes desconexas de uma possível narrativa.” Portanto, não sabemos o que acontecerá no porvir, no entanto, nossa vida sempre se dirige, projeta-se, almejando um futuro. Defendendo Macintyre a tese principal:
[…] o homem é em seus atos e profissões, bem como em suas ficções, essencialmente um animal contador de histórias. Não é em essência, mas se torna no decorrer de sua história, um contador de histórias que aspiram à verdade.
Desse modo, não há como recorrer a nosso “Eu” senão pela história, ou seja, “a mitologia, em seu sentido original, está no âmago de tudo”. Devemos perguntar pela nossa tradição. “O Eu habita um personagem cuja unidade é dada como a liberdade de um personagem.” Assim, nas perspectivas de Macintyre, a identidade do Eu é exatamente aquela identidade pressuposta pela unidade do personagem que a unidade da narrativa requer. Sem tal unidade, não haveria protagonistas sobre os quais se pudesse contar histórias. A narrativa de qualquer vida faz parte de um conjunto interligado de narrativas. Portanto, a unidade de uma vida individual consiste em que, essa unidade é a unidade de uma narrativa inserida numa única vida.
AS TRADIÇÕES
A história da minha vida está sempre contida na história do outro, na história das comunidades que deram origem a minha identidade. Ou seja, a posse de uma identidade histórica e a posse de um identidade social coincidem. A rebelião contra a minha identidade é sempre um modo possível de expressá-la. A saber que faço parte de uma história é o mesmo que dizer, caso goste ou não, que só me conheço enquanto sou portador de uma tradição.
Chegando Macintyre a conclusão:
A tradição viva é, então, uma argumentação ampliada pela história e socialmente incorporada, e é uma argumentação, em parte, exatamente sobre os bens que constituem tal tradição. Dentro da tradição, a procura dos bens atravessa gerações, às vezes muitas gerações. […] Novamente, o fenômeno narrativo da inserção é fundamental...
Isto quer dizer que, a história da vida de cada um de nós está inserida em termos da história mais amplos, longos de inúmeras tradições, tornando-a inteligível. Porém, as tradições ainda estão vivas, pois prosseguem numa narrativa ainda não concluída.