Estavam ambos na cidade de Manaíra. Encontravam-se em dia de sol intenso, e com poucas nuvens encobrindo o sol. Muito cedo Zé, como é previsto em seu código estupendo de corromper, já avistava o seu mais novo escravo, e com ele também as suas promessas de dias melhores. Zé chegou a Santino, e foi logo interrogando-o sobre as suas necessidades.
ZÉ: Olá, meu caro!
SANTINO: Bom dia Doutor! Estava eu a sua procura. Pois fiquei sabendo que é nessa época de campanha, e neste período que os bons homens da terra, já cedo, antes mesmo do galo cantar, estão pelas ruas, procurando os melhores fregueses, e as almas que estão a venda. A minha alma, doentia, pobre e angustiada, precisa de uma ajuda, e com ela acredito que o sr. irá ganhar a minha amizade sem mais nem menos. O que tens a dizer?
ZÉ: Olha homem, tenho um emprego pra teu filho de enterrador de cadáver. Pois aqui em Manaíra, os empregos estão todos com data e hora marcada para o fim. Só restará emprego para ajudante de coveiro, maximizador de enfermidades, tocador de Flauta e lá muito menos, um emprego para mendigo.
SANTINO: Não entendi, grande estadista. A minha ignorância foge a sua inteligência. Só quero que o sr. me ajude, e nada mais.
ZÉ: Oh, meu santo e homem trabalhador. – Zé ri ironicamente. Irmão é porque os empregos estão todos preenchidos, por isso só posso te prometer o que ninguém quer. Isto é, se eu te prometesse um emprego de secretário, ou de acessor, ou de fiscal de obras. É claro que você prometeria mais do que pode, e com isso, eu vou te prometer apenas à realidade. E seus filhos o que fazem, porquanto dependendo de suas aptidões posso ajudá-los ao menos com uma ajuda.
SANTINO: Ajuda?
ZÉ: Ajuda meu nobre, homem de caráter, digno homem de família. Quero dizer que se ele me acompanhar na campanha, a saber, bajulando, ajudando-me a corromper os jovens, e aumentando as angústias dos anciãos, podemos assinar um pacto. Isto é, quanto mais unidos, tendo em vista nosso sucesso e o fracasso do outro, seremos grandes amigos. Ai daquele que pregar contra a gente, pois faremos dele um cadáver, um nojento, e tentaremos que ele seja odiado pela massa, pelo povo ignorante de Manaíra.
SANTINO: É. Ehhhh!, Oh! Foi isso que meu filho disse, Zé. Melhor está do lado dos homens maus e perversos, mas que sejam eles bons pra gente do que do lado dos bons e ruim pra gente. Está aí diferença, meu amigo. Palavras de Deus são equivocadas quando se fala do homem.
ZÉ: Você é muito esperto. Onde estudou?
SANTINO: A vida, nada mais. E também os ensinamentos e a moralidade de meu pai.
ZÉ: Quer dizer que seu pai já era corrupto?
SANTINO: Sim. Logo eu só deveria seguir os seus preceitos. Lembra que Manaíra era apenas um vila, e hoje é uma cidade. Mas há algumas pessoas revoltas que só dizem que a nossa Manaíra, tão amada pelos seus, tão bonita, nem passou a ser ainda uma comunidade. Pois aqui só obedecemos, ocultamos as mortes, os preços das mercadorias, e damos mais valor às imundices da sociedade, a vagabundagem, a corrupção, a discórdia, as missas compradas, do que as belas coisas da vida. Somos mais gente verme! É esse o sentido. E meu pai também me ensinou a julgar.
ZÉ: Que homem gentil o seu pai. Acredito que tivesse grandes qualidades. Como a de um homem sério, honesto e humilde. Foi isso que ele te ensinou?
SANTINO: Sim. Mas além disso ele disse que eu vivesse sempre atrás dos homens visados da cidade, pois só assim, porventura eu caísse na pior, teria alguém para me ajudar. Foi isso que ele me ensinou, e eu passo para todos àqueles que ainda são jovens nas experiências da vida.
ZÉ: Você é muito esperto. Então vamos agora para o que interessa, porque tenho que fazer muitas visitas ainda hoje pela manhã, e tudo isso me enfada à consciência. O que você, portanto, quer de mim?
SANTINO: Sempre quis que meus filhos fossem algo que não fui. Como um dia sonhei em ser médico, meu irmão queria ser engenheiro, minha irmã mais jovem, advogada. Tudo isso queríamos ser. Mas não tínhamos condições, e nada mais horrível na vida do que sonhar no nada. Daí vivi sempre angustiado, e agora tenho à oportunidade de concretizar os meus sonhos, na identidade de meus filhos. E eles também sabem como é bom ter uma profissão de respeito.
ZÉ: Então, o que você quer para os seus filhos? Vejo que o sr. não quer nem telhas, nem uma saca de cimento, ou outras coisas similares e tão superficiais. O sr., quer algo a mais; ou seja, quer ser celebrado pelo povo de Manaíra. Como posso te ajudar?
SANTINO: Dando um emprego para a minha mulher, daí teremos condições melhores para ajudarmos os nossos filhos na cidade grande. E como será uma cidade grande? Oh, como sou ignorante. O sr., acredito, conhece muito bem a cidade grande. Enquanto Manaíra, não passa de um deserto, de uma triste cidade esquecida no tempo.
ZÉ: Conheço sim, meu companheiro. Vou te ajudar sim; mas antes temos que ganhar à campanha, senão vai ser difícil termos proventos e receita suficiente para bancar tanta luxúria, tanta vida farta de seus filhos, e até dos meus na cidade Grande. Olha que para isso muita gente é sacrificada.
SANTINO: É. Reconheço isso. Mas tudo é para o nosso bem. Então tudo certo!
ZÉ: Tudo certo, meu caro. Depois passe lá em casa para tomar um café, para conversarmos sobre a miséria política, e as comédias da vida.
SANTINO: Ótimo! Levarei um amigo.
Zé espirra, e sai de sua boca saliva, ou popularmente: CUSPE. Santino sai a passos rápidos e feliz da vida. Agora só resta ganhar à campanha e selar mais um novo tempo de amizade recíproca. Isto é, de interesse. A longa data Santino estava com Tuberculose; mas com os seus filhos formados e ricos. E o bom mesmo é que Zé, agora apoiava o filho de Santino para Prefeito da Cidade.
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