sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

DIÁLOGO ENTRE A CRIANÇA E O HOMEM




Tarde. O homem mais sábio da terra se põe a andar pelas paisagens mais exuberantes da cidade. Passando perto de uma plantação de oliveira, o homem avista uma criança sozinha procurando o sol. O homem estupefato por tamanha curiosidade pára e interroga à criança sobre as suas peripécias e ilusões no mundo.


HOMEM: O que tu vês criança, quando olhas para o céu além das nuvens e do claro sol?

CRIANÇA: Procuro pela luz divina. Será, portanto, ela tão forte e poderosa como os milagres do homem? Ou ser-se-á ela a minha amargura pela verdade, e o meu tédio pelas coisas ocultas? Saí de casa DE manhã, e agora à Tarde, não encontro sombra benfazeja para o meu deleite. Estou sem comer, e as frutas ainda não sazonaram para a minha fome. E tu que fazes a me interrogar sobre o céu e as suas nuvens?

HOMEM: Ora! Criança, eu preciso saber o que tu fazes aqui na terra, porque ainda estou à procura do grande paraíso. Tu o conheces?

CRIANÇA: Não! As coisas elevadas da terra minha mãe ainda não me ensinou. O que sei fica abaixo dos homens, e não importa aos espíritos elevados apenas se contentar com o que se apresenta, é necessário para sua alma algo superior. O que sabem as crianças na terra a não ser brincar e zombar de toda superioridade divina?

HOMEM: Ehhh!, Mas a tua brincadeira é perigosa. Vives por aí procurando algo para a tua fome, e não se importa com o acaso, nem se preocupa com a vida. Tem mais abismo para destruir do que frutas para colher. Constrói o teu mundo e nele as tuas confianças precoces. Mister tem também os teus brinquedos escondidos, a tua esperança no amor, os teus sonhos engendrados na externidade, e no corpo o teu prazer sacro. Cuidado com a classe espúria e os diamantes de sangue; assim te precaverá das doenças da humanidade.

CRIANÇA: Doenças da Humanidade, sábio homem? Como são elas, de que formas são causadas, e como elas se proliferam?

HOMEM: Oxalá, meu nobre! Elas não são, nem tem formas e nem proliferam. As doenças são abismos nebulosos do próprio homem; a saber, os seus disfarces, as suas datas comemorativas, a sua felicidade tão festejada, e o seu coração de filho obediente. Veja pelas ruas de nossa cidade, observe o quão grande é o amor pelas coisas ocultas, e quão estupendas são as coisas celebradas pelo homem na terra. Eu mesmo me pergunto por que tamanha insensatez, quando o mais necessário é feito sob a cruz do dever, e o medo da própria realidade. São as nossas alegrias abismos disfarçados, medo do perigo, da foice, e até a nossa maior amargura?

A criança olha para o Homem com sereno medo. Ela percebe que ele treme, enquanto a sua mão repousava em um galho a sua altura.

CRIANÇA: Homem, as tuas palavras são poderosas e traidoras. Como poderia eu solver o meu medo na tua sabedoria? Mas me responde com sinceridade sobre o sol, e não tenta me mostrar à realidade; pois dela tenho medo. Penso ser o mundo um conjunto de homens que brincam, mas não sabem o alcance de sua brincadeira, nem o quanto supérfluo é seu jogo em cima da terra. Por isso, venho em forma de espírito simplório, para condensar o conhecimento dos homens vividos, e purgar o seu coração exangue no rio com águas límpidas. Assim, talvez essa brincadeira inconsciente torne-se um dia não mais sombra, e nem verdades, mas o ato da criação. Isto é, o fim da fantasia e a construção de um mundo INTERIOR. As procuras sempre existiram. O dever enoja. Então, meu conselheiro, mostra-me em poucas palavras À felicidade.

Paira sob a cabeça do Homem uma folha de oliveira. Ele a pega e morde. Por conseguinte a Criança rir. Emociona-se. Ela acredita que o homem apesar de experiente na vida, nunca tinha comido uma oliveira.

HOMEM: Alegro-me Criança por perceber que em tua face há alegria verdadeira, e teus sentidos são mais perenes do que o átomo. E em ti tudo é refutado pelo poder da vida. Nada mais sereno e harmonioso aqui na terra do que à tua procura. Alegro-me também quando tu sais de casa e foge de teus pais. Alegro-me em saber que em cima da terra o homem pode ainda aprender com as crianças, e ser por elas, enfim, a luz do sol.

O Homem encontra-se trêmulo. Escorre sobre a sua face lágrimas. A criança sentida, o entrega um pequeno pano. Neste pano está escrito: “Renasce de teus olhos à pureza da vida; não é a todos que ela pertence. Assim, deixo-te. Segue o teu destino, porque preciso construir o meu. Não há em ti verdade; por isso tu choras. Enquanto tu choras, eu aconteço. Matarei essa árvore para que dela não mais produza frutos, e com isso renasça na terra árvores mais frondosas com frutos doces e amenos; é assim que se cria o paraíso e não comendo os frutos do passado.”

O Homem continua a chorar. A criança se despede.

Assim Deixo à criação de 2009 e aconteço. Gilberto Dilo.



   

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