sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA DO PENSAR DE SI MESMA


A educação constitui um campo próprio para se pensar a si mesma

 A educação pode ser pensada em vários campos. Ou seja, a educação é una, mas se articula em vários setores do mundo do conhecimento; seja cientifico ou humanístico. Por isso que,

A educação é um campo de teorias e de práticas culturais cuja realidade e cujo motivo de existência não se dissolvem em outras teorias, em outros campos de conhecimento, científico ou não, e em outras práticas sociais. Não se dissolvem, mas coexistem na mais estreita “contaminação”. Pois eles existem como círculos de conhecimento a respeito dos mundos de cultura e de vida social, de filosofia e de ciências da vida e do mistério do humano estreitamente entrelaçadas, interconectadas e, umas para com as outras, interdependentes. ( BRANDÃO, 2002, p. 196 ).

Brandão afirma que a educação não pode caminhar isoladamente, ou seja, ela necessita ser enriquecida pelos outros conhecimentos, e pelas variedades de outros campos de saberes; como o da filosofia, da lingüística, da psicologia, das ciências sociais etc. Assim, os valores constituídos e a nós legados podem ser condicionados em prática de projetos com a educação, no sentido de levar a cabo os seus significados para a sociedade contemporânea. No entanto, se esta experiência com a educação for utilizada mais para robotizar os educandos, dando ênfase ao ensino “mecânico”, “universal” e “objetivo”, paradigmas estes defendidos por alguns teóricos modernos, isto é, do ensino metódico prenunciado por Descartes, provocará um eterno retorno, isto é, estaremos sempre no sentido de uma volta a antigos sistemas, onde as visões de mundo, as ideologias e as crenças serão apenas atualizadas sem críticas reflexivas.
Contudo, pensar a educação é uma abertura para o próprio pensar filosófico. Pois, segundo Brandão, as várias visões de mundo não podem ser trabalhadas como ideologias fechadas, que mais impõe o educando a pensar sobre tal visão, quando na verdade deve-se prezar por uma educação imune a sistemas e ideologias. Dessa maneira o confronto de idéias, tem mais a finalidade de se produzir consciências servis, do que pessoas mais conscientizadas através da transformação pedagógica. Quando na verdade, a educação é universal, e corresponde a toda espécie de cultura. Então, “a educação deve estar aberta a buscas de integração e de interação com todos os outros campos da sensibilidade e do saber humanos”.
Na concepção de Brandão o educador não se deve limitar apenas a prática da matéria estabelecida pelo setor educacional e de seu saber conceitual. Pois o educador além de afirmar o saber, “ele trás para o seu campo um sentido de vida e de trabalho dentro e fora da sala de aula, a contribuição de todos.” Essa contribuição, a do educador em seu campo profissional, parte tanto de suas experiências cotidianas, como o prazer de interagir com outras pessoas, com os assuntos trabalhados didaticamente em sala de aula. É dessa forma, conforme Brandão, que o Educador realiza a plenitude de sua identidade com a educação.
Para realizar a plenitude do Educador com a educação, Brandão estabelece três critérios:
1 – O educador precisa interagir com outros campos de saber. Pois pouco a pouco todos os campos do saber abandonam um olhar mecanicista em busca de fórmulas, de princípios e de leis únicas e absolutas, e se abrem à procura aberta a leques de significados.
2 – A ligação entre o saber do especialista em confronto com outras possibilidades de conhecimento. Notadamente os propriamente críticos, a respeito dos quais mais possibilitam a capacidade filosófica. Quando vivemos uma época onde a filosofia deve voltar a ocupar o lugar de origem, isto é, a sua importância fundamental em todo o ensino escolar. Isto é, “Um programa de estudos e de vivências com a atenção voltada muito mais para as integrações de significados do que para a acumulação de conhecimento.”
3 – A utilização de métodos milenares em escolas, como princípios que causam a aprendizagem mais do que as técnicas curriculares. Isto é, a meditação budista pode ser utilizada com os educandos quando descobrimos que este método é eficaz e causa grande impacto no aprendizado destas pessoas.
Mais do que o saber determinado das grades curriculares das escolas, Brandão propõe um ensino indeterminável, isto é, um ensino mais centrado na vivência humana do que apenas um ensino ligado ao ‘entregue’ de matérias sem uma integração com ensino da pessoa dentro da sociedade. Pois, “onde havia certezas há agora a probabilidade, e onde havia fixidez do real e do pensamento há uma abertura ao fluxo, ao processo, a uma visão bastante mais orgânica e mais compreensivelmente holística. Algum dia, o que hoje chamamos pedagogia poderá ser lida também como uma Ecologia do saber.” ( BRANDÃO, 2002, p. 202 ).
 Gilberto Dilo

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