quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A RAZÃO DE SER DA EDUCAÇÃO


 A razão de ser da educação retorna a ela mesma, isto é, a nós, perenes educandos

A educação como prática de ensino ‘retoma’ e ‘revisita’ idéias antigas, que em nosso tempo podem ser reaproveitadas através de várias interpretações. Brandão acredita que compreender a educação é deixar-se levar pelos seus sentidos, que crescem e se multiplicam de acordo com as distintas culturas. Todavia, a educação deve deixar de ser uma espécie de “meio-para-alguma-coisa, e deve de fato se transformar em um fim-em-si-mesmo. [...] em um meio cujo fim não é alguma espécie de crescimento ou mesmo de desenvolvimento econômico, mas é o desenvolvimento humano.” ( BRANDÃO:2002 ).
Portanto, Brandão postula que a educação como prática deve ser utilizada para tornar as pessoas mais sociáveis, isto é, humanas. Já a visão de crescimento econômico de uma nação, mais acentua o interesse de uma classe de poderosos, isto é, de capitalistas, que mais se preocupam com o lucro e a propriedade privada do que com as pessoas humanas. É o poder neoliberal grandemente expresso em uma visão de crescimento, isto é, de dados e ideários de um sistema. Haja vista que este sistema também se compõe de  pessoas sociáveis, que anseiam o pleno desenvolvimento de suas funções de trabalho, que mais correspondem com a sua profissão dentro de cada setor. Até mesmos os educandos se inserem neste processo de crescimento, e são levados a alcançar resultados em busca de reconhecimento.
Por isso, Brandão acentua que as vocações dos professores em pleno século XXI, em sua maioria, não é a plena realização da pessoa humana; isto é, o preparo de crianças, adolescentes, jovens e adultos para algo exterior. Nesta direção, segundo Brandão, em vez de uma formação para a vida, o aluno começa a ser qualificado para o trabalho; como se a capacitação para o trabalho fosse à última realização do ser humano, e não a vida. Além disso, Brandão recomenda até desconfiar de uma educação cidadã, pois que espécie de cidadão quer se formar nas escolas? Assim, “Podemos pensar que, bem mais do que o trabalho e a própria ação política, a educação é um bem em si. ‘Estar se educando’ é, hoje, uma idéia bastante mais fecunda do que ‘ter sido educado’.”
A educação para a plena realização da pessoa humana faz parte de um processo, e pessoas que se educam são responsáveis pela própria formação “para a vida”, para a maturidade. Assim, a prática de experiências, segundo Brandão, só é acentuada quando todo processo pedagógico de formação é acompanhado em cada momento de cada passagem de ciclo da vida de seus educandos. É o mesmo que centrar-se apenas no fornecimento instrumental de conhecimentos, mas deixar aquém a vivência do dia-a-dia e as habilidades de uma formação mais permanente e sadia. Isto é, apenas o ensino das ciências impossibilita a realização do educando como agente social de pessoas, e ao contrário de uma formação continuada, a estrutura pedagógica do educador impossibilita o desenvolvimento reflexivo dos alunos. Logo,
Em uma sociedade justa, harmoniosa, solidária e igualitária, convivida por pessoas livres, a quem deve ser atribuído o direito à plena realização da felicidade em cada um dos momentos da vida, a educação deixa de ser um instrumento de “formação para”, e passa a ser um processo criativo e reflexivo de permanente inovação-de-si-mesmo-no-diário-com-os-outros. ( BRANDÃO, 2002, p. 192 ).

No entanto, esta tarefa de tornar as pessoas mais humanas e solidárias umas com as outras não é dado tão somente à educação. De forma que ela cumpre o papel apenas de mediadora, tornando fecundos os relacionamentos entre as pessoas. Pois interessa a educação, segundo Brandão, somente a definição de direcionar as pessoas a novas buscas; procurando amenizar as desigualdades e exclusões, tão massificados pela injustiça social. Esta visão de Brandão faz parte de uma educação permanente. Isto é, trata-se de uma educação que ajude a relativizar a própria servidão humana ao trabalho. Pois este trabalho é, “mais do que a própria educação, um instrumento de reciprocidade entre pessoas e o mundo. Ele não é uma finalidade absoluta da vida humana e nem é o construtor essencial de uma vida social. Ele é apenas um entre outros meios de criação de condições da realidade social.” Em outras palavras, não nos educamos e nem educamos para servirmos apenas ou sermos a prioridade ao trabalho. Interessa aqui pensarmos como educadores do futuro, que em vez de uma educação pautada pelo trabalho e a disciplina moral, volte-se mais para a destinação do ser, de maneira contínua e permanente; para formamos pessoas mais humanas e felizes. Este é o papel do educador.
Gilbert Dilo

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