sábado, 30 de janeiro de 2010

DIÁLOGO ENTRE O DOMADOR E O BURRO



Convertido na doutrina da ignorância e da bestialidade ,advinda de sua cultura escrava e submissa, o domador diz que o burro é mais honrado, por conta que é de sua simplicidade ( bem simplicidade aqui quer dizer ser parvo, idiota, homem sem coerência no discurso ), enfim ser simples para o domador é ser tolo e mais consagrado pela sua fraqueza. Por isso, que o domador diz que adora o seu Burro. Pois, o domador sabe que dizendo o que o Burro quer ouvir, o que ele pensa de fato, nunca terá a sua volta outro domador que lho substitua; em contrapartida – oh, espíritos condenados – este Domador ser-se-á o exemplo desta comunidade: seja ela de uma pequena cidade do interior do sertão, seja ela das grandes metrópoles. Foi deveras assim que o Domador se fez na história: Falando o que canalha queria ouvir, plantando rosas venenosas no coração da humanidade. Basta que olhemos para os Burros: todos são o que não queriam ser. O domador do Burro é também domador da canalha, do povo vitimado na história. Por isso, que apesar de ser o domador mentiroso e tacanho, é o domador também a imagem e a sombra do parvo Burro. O Burro acima de tudo adora uma carga; e olha que carga para o Burro é está abaixo de todos os princípios. Basta que se dê capim e água; e o burro põe-se novamente a rinchar. Assim principia o diálogo entre o Domador e o Burro: Riiiiii.

DOMADOR: Oh, meu burro! Sabes tu que te quero todos os dias com sela e cabresto; pedirei a meu filho que cuide de ti como eu cuido dos teus. À tarde te darei água e capim; se queres mais alguma coisa, rinchas através desta tua boca verde. – o Burro rincha.

BURRO: Meu dono, meu Domador! O que queres de mim? Que eu seja tão somente o teu assento, o teu plano escopo e o desvio dos caminhos pedregosos? Como te prezo meu santo amigo.

DOMADOR: Tu também prezas a tua imagem inspirada na minha. Vês o quanto tu és submisso, idólatra e besta; meu humilde Burro?  Vocês Burros não vêem o que teme; duro se fez o teu ofício, duro se fez o que tu tentas ocultar. Mas quanto mais ausente ficas, mais a minha vontade de poder cresce à tua volta. – o Burro volta a rinchar e balança a cabeça confirmando.

BURRO: Não sei dizer o que é mais duro para mim: se é o meu rebaixamento, ou a minha preguiça de pensar. Mas penso ardentemente que duro é não ter alguém para se honrar, e, por conseguinte, depositar as minhas esperanças onde plantei a minha omissão. Pois, odeio todos os domadores quanto em vez de capim, eles trazem a ordem através dos gritos e o chicote da ofensa. A minha pele, ainda rígida, sente a dor nos olhos da terra que piso sem vontade. Se eu tivesse ao menos liberdade para correr; no entanto, não posso correr sem a ajuda de meu próprio criador. Dói-me pensar que distante estar a minha liberdade; mas não se tem liberdade onde não há pasto e nem a chance de prosperar. Destarte tudo é difícil, duro, e talvez um grande perigo. Por isso, que em vez das coisas incertas e difíceis, prefiro carvão à lenha. Ou seja, a coisa fácil, embora que de forma humilhada, é bem recebida por mim. Olhemos ao nosso redor: o sol do meio dia fita o peso das minhas costas. Sob mim... –  O Domador sobe no Burro e põe-se a galopar.

DOMADOR:  Sente-me por cima de ti em toda a eternidade. Até na morte, saberás crer na minha verdade. Porquanto, que não te ensinei a crer, mas é necessário para as almas fracas, arrogantes e bestas o silêncio. Todavia, a tua vontade é sacudir-me fora da tua vida, e correr sem rumo.até encontrar a tua felicidade. Meu Burro, o que são os homens da terra, senão o teu capim, o teu plantar para consumir? Adoro-te como a minha vaca; pois em vez de carga ele serve carne e leite. Se não fosse a ira do boi, a vaca também criaria no seu terreno garrotes de pêlo áureo para valorizar a sua prole, e a sua raça. Coitado do Burro, nem raça para ele existe; apenas o seu uso doméstico perante uma parcela de Domadores fanfarrões. E as ovelhas estão às soltas.

O Burro contemplando-se deita ao chão e dorme. Ele estava cansado. Chove na terra, o pasto enverdece. Outro Burro aparece. O antigo Burro é substituído. Resta para ele agora os risos das crianças e o seu aposento. Bem, este Burro distinto dos homens, não paga previdência e nem tem família. Ele sempre foi só; então para ele não existe liberdade e nem igualdade. O Burro morre.

gilberto dilo

2 comentários:

  1. Bom diálogo Gilberto. A cada dia mais introspectiva e real a sua escrita. Homem das letras; grande SER HUMANO.

    De seu amigo e admirador: HANS.

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