segunda-feira, 30 de novembro de 2009

DIÁLOGO ENTRE O CONHECEDOR DO CORPO E A RECEPTORA



JÚLIA: O que faço de mim, meu grande orgulho? - Estava Júlia, respondendo a seu esposo.


ESPOSO: Disseram-me que além de nós, há muitos casais apaixonados, que sonham em levar a madrugada o sinal de amor, que brota de suas nascentes, e de seus canais de milagre. O milagre para o amor doentio, e palavra de paixão que brota de seus lábios, é conhecer-se perante o mais profundo orgulho do corpo, e do desprezo do amante. Assim, mesmo que entre dentes haja o pudor e a discórdia da traição, saberemos nos amar no corpo.


JÚLIA: O corpo, pobre homem?


ESPOSO: O corpo, decerto. E sendo dessa forma, que ele se põe perante as amarguras da vida, é sabido que não olharemos para ele com muito desprezo; pois no corpo ninguém faz oração, e nem peca. Só a ele devemos explicação. Veja que sem o seu consentimento, todas as mulheres desprezariam os homens na terra, e não sabendo de que viveria, o homem seria apenas um objeto, e nada mais. É isso que acontece nos casamentos: apenas a reciprocidade dos corpos. E o que era tênue e apaixonante, resume-se em uma gota de concupiscência efêmera.


JÚLIA: Não sinto isso em nós meu anjo. Você sabe que te amo além de mim, e isso não sei explicar. Você sabe, que te amo?


ESPOSO: Sei! Também amo-me. Mas se disser que não te amo; começa o ódio a despertar de teu amor por si mesma.


JÚLIA: Não é ódio, meu amor! Sabes quando amamos, basta um riso de soslaio para o contrário do sexo, que embrutecemos de ciúmes. Isso faz crer que nada mais urgente no amor, do que a bravura e a coragem de defender o que é nosso.


ESPOSO: Nosso não, do corpo! E se não fosse este amor do prazer, da cama, e do enaltecido milagre que causa o homem a mulher, que seria do amor? Não seria ele apenas uma palavra, e nada mais, e para isso, como fonte última, no restaria apenas o corpo? Ora, coragem Júlia, porque além do corpo nada SE pode, só a astúcia e a vontade da mulher.


Júlia olhou-se para si, tocando-se. Depois levando-se da cama amargurada. Seu esposo só a quis como corpo, e nada mais.


JÚLIA: Ainda bem que há o corpo nas relações amorosas, senão tudo seria só sexo. O corpo é abençoado. E olha que muitos chamam o corpo de impuro. Não são as coisas impuras as melhores?

Gilberto Dilo 

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