Bem, este é o último texto, de uma série, que publiquei semanalmente no Blog. Espero que os leitores tenham gostado. Os textos aqui trabalhados nasceram de comentários sobre a obra de Carlos Rodrigues Brandão: O trabalho de ensinar, A educação popular na escola cidadã. Boa Leitura!
Brandão quer trazer à tona novamente a temática sobre os palestrantes, que acreditam que falam em nome de um Deus, quando vêem a platéia vibrar em nome de seu poder de instrução.
Bem, é nestes contextos que mais próximos de uma proposta de educação cidadã, o olhar estendido do horizonte do educador pretende ir até nós, vivos espectadores, revestido de uma política pedagógica. Embora que nestas palestras ainda seja possível reviver o sentido de educar para o trabalho. Isto é, “os interesses de mercado.”
Assim um projeto que mais corresponda com uma ideologia política, no sentido de se buscar Paulo Freire, é mais animador. Pois, “ousamos imaginar que a educação que podemos praticar é um elo a mais na cadeia da reciprocidade à volta do saber, do significado, do valor, da sensibilidade e do aprendizado de sociabilidades”. Reciprocidade esta que conforta o cidadão em seu ofício, quando através de sua vida cotidiana ele constrói o imaginário do ensinar-aprender, e une ao redor destes valores à educação e a escola, como a sua razão de ser e de trabalhar.
Dessa forma, tudo que se criou; isto é, todo pensar, todos os conhecimentos das ciências, os arranjos técnicos, as formas escritas, as religiões etc. Seguem se perpassando as gerações e as culturas humanas, e sendo realizadas em suas múltiplas experiências. O belo destas criações, segundo Brandão, é que em algum momento do ensino, estes antigos valores podem ser reinventados ou redescobertos. Como “Uma “tabuada do 7”, re-ensinada em uma pequena escola rural, re-corda de repente toda a Matemática. Um poema lido, mesmo que seja para ensinar algo sobre os “verbos irregulares”, reacende toda a poesia alguma vez escrita no mundo.”
Portanto quando nós educadores voltamos aos antigos valores, recriando-os novamente, mais próximos das experiências humanas nos encontramos, como o recorte de uma mesma passagem, embora tudo seja interpretado de forma diferente, cada vez mais retocamos muito facilmente estes conhecimentos. Pois, segundo Brandão, o fundamento do trabalho do educador não está apenas em que ele “ensina” e, assim, no como ele “transmite” ou “transfere” conhecimentos úteis de uma geração de pessoas a outra.
É este o trabalho essencial do professor: levar a sua identidade educadora o sentido de seu ofício correspondido com o universo de símbolos antigos, então fixados na sua vida cotidiana na sociedade. Cabe ao educador, segundo Brandão, recriar estes conceitos, a saber, provar da própria experiência que se volta a cada instante que se vive o ensino. Então, quando o professor faz acordar estes valores muito adormecidos pelo tempo, isto é, o seu sentido, o saber fixado nas gerações, ele faculta a interação entre os convivas em sala de aula, convidando-os para um diálogo que torna atual o conhecimento, e isto, conforme Brandão, realiza o aprendizado.
A pessoa humana ela é múltipla e variada, quando individualizada na sua subjetivação de momentos e de situações da cultura objetiva, isto é, o homem em seu meio co-existe na sintonia de uma relação entre as suas concepções de mundo, e o que fora legado pelas culturas antigas. Assim, quando pessoa em sua criatividade faz uma trans-valoração destes valores, ela se recria nesta relação. Porém, é dado ao educador a mediação entre estas diferentes culturas. O educador deve criar contextos concretos, na interação em sala de aula, junto com as suas experiências de vida, de símbolos, possibilitando aos alunos o encontro com o seu próprio pensar.
Esta compreensão entre o que se sabe e o que o aluno não sabe se dá no diálogo contínuo; onde tudo faz sentido e passa ao alargamento de idéias e possibilidades. Pois, conforme Brandão, não se sabe por que domina-se o conteúdo, ou doma-se os já possuídos. Quanto ao saber não se pode ter posse e nem domínio.
Gilberto Dilo
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